Nos bastidores da folia: o Carnaval sob o olhar de quem comunica.

Entrevista com Livia Veiga, especialista em comunicação e Carnaval desde 2009.

Com mais de uma década de atuação na comunicação, Livia Veiga é jornalista, mestre em Administração e especialista em Comunicação Corporativa. Atua como repórter do Jornal Tribuna da Bahia e coordena cursos de Comunicação e Artes na Unifacs. Desde 2009, acompanha o Carnaval de Salvador nos bastidores da mídia e compartilha aqui sua visão sobre como a comunicação evoluiu junto com a festa.

"Uma das principais mudanças que eu percebo do Carnaval de 2009 pra hoje foi o surgimento e consolidação das redes sociais. Em 2009, nosso foco era conquistar espaço para o artista na TV, nos jornais impressos e nas rádios.

Hoje, a visibilidade do cliente é muito maior porque as pessoas compartilham suas experiências e ensaios nas redes sociais, o que abriu novas janelas de exposição para os artistas.

Naquela época, nossa assessoria já era considerada proativa, porque a gente produzia conteúdo o tempo inteiro. Em cima de um trio elétrico, por exemplo, eu produzia textos a cada 15 minutos com imagem para enviar aos veículos de imprensa de todo o Brasil.

Era como se a gente tivesse montado uma redação móvel, em tempo real. Antes de existir uma equipe de social media como hoje, a gente já fazia esse trabalho no improviso, na raça, em cima do trio."

OS BASTIDORES DOS BASTIDORES:
O QUE NINGUÉM VÊ

COMO O CARNAVAL MUDOU DE 2009 PRA CÁ

O CORPO TAMBÉM SENTE

"Em 2024, depois de alguns anos longe do Carnaval, fui chamada de última hora pra fazer assessoria de um camarote. Sem preparo físico, sem estar indo à academia, meu corpo sentiu.

Trabalhei seis noites seguidas, 18 horas por dia. Quando acabou, tive uma disfunção hormonal. O médico disse: 'Isso é comum em atletas, em maratonistas'. E foi isso que virou: uma maratona.

Este ano, em 2025, já me preparei meses antes. Malhei, regulei minha alimentação. Um dia, só pra você ter noção, andei 12 milhas e perdi mais de duas mil calorias.

Quem quer trabalhar no Carnaval precisa se preparar fisicamente. Não é só glamour."

MAIORES DESAFIOS DE QUEM ORGANIZA O CARNAVAL

"Talvez o maior desafio de organizar o Carnaval de Salvador seja entregar uma experiência inesquecível ao público — e isso com milhares de variáveis que podem dar errado. Tem que ter plano de crise, prever falhas antes que aconteçam.

Já vivi trio que parou no meio por problema na bateria. Já vi estrutura de camarote que quase não abriu no dia. Já vi jornalista sendo agredido na corda do bloco.

É preciso ter planejamento, cabeça fria e foco em quem realmente importa: o folião. Ele investe, ele sonha com aquele momento. Então, é nossa obrigação tornar essa experiência segura e memorável — esteja ele na pipoca ou no camarote."

UMA LIÇÃO QUE FICA

"No começo da minha carreira, meu chefe me disse uma coisa que eu nunca esqueci: 'Nunca esqueça, que nós estamos assessores, mas nós somos jornalistas'. E é isso que faz a diferença no nosso trabalho.

A ética, o compromisso com a informação e com as pessoas. Isso constrói respeito, constrói relações. E isso não muda, nem com redes sociais, nem com inteligência artificial."

/liviaveigaoficial

"Meu sonho é ver um repórter cobrindo o que realmente é trabalhar no Carnaval de Salvador.

Porque os bastidores são quase desumanos. Dormimos pouco, comemos mal, e a pressão é altíssima. Já fui assessor de artista, de camarote, já fui repórter — e cada função tem sua própria loucura.

Você acorda 8 da manhã, sai com o artista, faz entrevistas na van, organiza imprensa, sobe no trio, desce do trio, vai pro camarote, organiza o camarim, e ainda tem que monitorar quem tá nos espaços pra alertar o artista.

Muitas vezes, eu funcionava como um 'olheiro social'. Eu avisava: ‘Olha, Lícia Fábio está naquele camarote com uma camisa azul ao lado da pilastra’. Isso evitava gafes e fortalecia relações."

Foto e vídeo: acervo pessoal

Foto e vídeo: acervo pessoal